terça-feira, 15 de julho de 2008

Intensidade e Cultura


O Museu da Língua Portuguesa impressiona. A estrutura física, além de bela, é de excelente qualidade; o conteúdo lingüístico foi elaborado por vários dos mais destacados nomes da área; as intervenções artísticas são inventivas e instigantes.

Não há como não apoiar. A associação entre língua, cultura, história e sociedade não fazem parte do imaginário médio dos brasileiros e nada melhor do que incentivá-la. Além disso, é notável que o Museu não se deixou seduzir pelo normativismo. Lá, felizmente, não se deu acolhida ao discurso do “certo” e “errado”.

Esse apoio básico, contudo, dificulta ainda nesse momento de celebração da iniciativa, a avaliação crítica dos múltiplos aspectos do projeto. Os temas culturais que servem à construção da identidade nacional brasileira – como futebol, carnaval, festas populares, culinária, entre outros – também já serviram como meio de mitificar nosso processo histórico e nossa formação social.

A própria noção de língua como espaço, essencialmente, de “união” o lema do Museu diz que “a língua nos une” – acaba servindo para encobrir que ela é, também, um espaço de contradições e embates. Não há por que eximir a língua de seu quinhão de responsabilidade na construção e manutenção do sistema de apartheid social que, constantemente, gera polêmica entre estudiosos, autoridades e artistas.

O projeto museográfico é assinado por Ralph Appelbaum, responsável por exemplo, pelo Museu do Holocausto, em Washington (EUA). Sua idéia é que os museus devem proporcionar vivências intensas. O visitante não pode sair como entrou.

Aparentemente, nem todos acharam simples realizar essa concepção no primeiro museu do mundo dedicado a uma língua. Temas como a história do Português e suas variedades parecem adequados a essa intenção lúdica, mas só isso, aparentemente, não bastaria. A história culmina com um mapa animado, que, ao toque do público, exemplifica os falares regionais do Brasil.

A solução foi valer-se de uma ampla gama de recursos tecnológicos. Alguns com valor mais didático, como os totens interativos. Outros, voltados também para produzir catarse, como a Praça da Língua e a Grande Galeria. É ótimo visitar o Museu. Mas, na saída, é possível pensar, em certo aspecto, que ele passa a idéia (talvez errada) de que é preciso muita tecnologia para deixar realmente atraente a língua portuguesa.

É o fim da exposição permanente. Em contato com seu próprio sotaque ou o de seus familiares e amigos, o visitante é devolvido ao mundo real, quem sabe, um pouco mais consciente dos vetores que instituem seu cotidiano. Do transe sinestésico à reflexão, essa parece a idéia subjacente ao Museu da Língua Portuguesa.

PARA SABER MAIS

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

Endereço: Praça da Luz, s/n, Luz – São Paulo (SP).

Tel. (11) 3326-0775

Horário: terça a domingo, das 10 às 17h.

Site: www.estacaodaluz.org.br






Um comentário:

Marli Rocha disse...

Muito legal, o conteúdo, as imgens.

Valeu!